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O que fazer quando a solidão chega?

por Irineu Deliberalli

Em mais de 25 anos dedicados ao trabalho de Psicólogo Clínico, um dos fatos mais comuns é encontrar pessoas que se escondem de si mesmas, e, em choro convulsivo e desesperado, assumem com grande emoção “que não agüentam mais estarem sós”. A queixa é: “Não sei lidar com a solidão; ela me machuca; sou muito triste, porque sou solitária; por que Deus faz isso comigo e não me manda alguém para compartilhar a vida? O que há de errado comigo que não arrumo companhia? Estou procurando há tempos alguém íntegro, de caráter, honesto e verdadeiro e veja só o que me aparece… um pior do que o outro!”. Reclamam os solitários!
Alguns misturam as queixas com profundas revoltas e até atitudes agressivas com a vida ou mesmo a Criação. A dor de cada um é muito grande. O sentimento de inadequação, baixa auto-estima e desespero, acompanham a solidão e transbordam em formas de atitudes, palavras, posturas e queixumes.

Noto que, paralelamente, a este fato, outras pessoas nunca se sentem sós. Estão sempre acompanhados; têm grande poder de atração; acabam uma relação, e, no máximo em uma semana estão com outra pessoa, nem que seja apenas sexualmente; mas, sozinhos, nunca!!! Os discursos são: “Ah não, ficar só eu não fico”; não fico chorando pelos cantos como minhas amigas, um caiu fora, entra outro no lugar; homens e mulheres estão sobrando por aí; eu, hein, ficar sozinha/o!; “não vou passar um final de semana só, sem um corpo gostoso para me agasalhar; eu não vivo sem sexo”. Duas maneiras diferentes de manifestar a mesma coisa: SOLIDÃO!

O segundo tipo de pessoa, normalmente, não suporta sua solidão e entende que o outro vai resolver seu problema, vai estancar o sangue de sua ferida e quando alguém sai de sua vida, sua ressaca afetiva pode durar de 24 a 72 horas, onde chora, esperneia, xinga, etc., depois é como que tomasse um banho, colocasse uma roupa limpa e está pronto para novos envolvimentos, visando não ter oportunidade de entrar em contato com sua solidão. Só quando entro em contato com a dor que a solidão me traz que eu posso curá-la.

Certamente, todos nós, em algum momento de nossas vidas, já nos sentimos solitários, com esta sensação de falta e é provável que tenhamos chorado sentindo falta de alguém ou de um amor que se foi; isso é normal, somos humanos, mas, neste momento, me refiro “aos solitários de carteirinha”, aqueles/as que passam parte de suas vidas em amarguras, sofrimentos, tristezas, melancolias e profundas dores emocionais. Elegeram a solidão como justificativa para sua vida não andar ou não estabelecer vínculo com outras pessoas, ficam presos a determinados arquivos emocionais, e, têm, nessa vida, uma ótima oportunidade de cura se assim o desejarem.

De fato, os seres humanos não nasceram para viverem sós. Nós somos seres gregários, precisamos da companhia, do carinho, da proteção, da amizade, do compartilhar. É na troca dentro das relações ou papéis que representamos, que desenvolvemos competência para interagir com cada um deles, pois na vida humana, o que nos diferencia dos nossos irmãos animais são os processos de aprendizado estabelecidos na relação com seu semelhante.

A Lei Universal estabeleceu que nós precisamos do outro como espelho para desenvolver algumas competências básicas, então, é natural que a falta de relacionamentos provoque estados emocionais como já citamos acima.

Tenho plena convicção que o universo quer e nos dá o melhor. Ele promove as oportunidades para que eu atinja uma compreensão maior e possa encontrar a felicidade. Não me criou para ser infeliz. Ser ou estar infeliz é simplesmente não entender os motivos que a vida dispõe para que eu encontre o meu próprio caminho. É também estar preso a determinados arquivos, onde num momento anterior fiz escolhas, e estas escolhas reverberam ainda no meu momento presente. Se foram boas, tenho uma vida interior com qualidade; se não foram adequadas, tenho uma vida interior com dores, confusões e até sofrimento que preciso aprender a me libertar ou curar.

Assim, todos os solitários que sofrem por este motivo, estão cometendo um enorme equívoco: “não olhar sua relação consigo mesmos”. Estão buscando fora, aquilo que deveriam buscar dentro. A experiência humana nos dá oportunidade, através do apoio do outro, de me reconhecer, aprender a ficar comigo, me acolher, me aceitar, me amar, me curtir, e ter uma qualidade de vida interior mais saudável, para me relacionar depois de ter superado as necessidade primitivas do meu nascimento e desenvolvimento, quando for um adulto que consegue assumir sua vida e sua caminhada.

Todos que sofrem de solidão não entenderam o que a vida deseja ensinar: “que aprendam a se amar, se nutrir, e gostar de sua própria companhia. Ninguém está, nem estará só, se estiver consigo mesmo. Solidão nada mais é que sentir falta de mim mesmo. Quem assume ficar consigo, pode até sentir falta de outra pessoa, mas, alcança qualidade de vida a medida que se aceita, para depois entrar numa relação afetiva pronto para trocar.

Quem reclama de solidão, pode ter certeza que é o universo conspirando a seu favor, lhe dando a chance de aprender a se reconhecer, pois, estão acostumadas a buscar fora ou no outro o preenchimento de suas necessidades, e, precisam compreender que podem ser felizes, no momento que se voltarem para si, e encontrarem no coração, a presença do Sagrado.

Solitários de plantão, permitam-me um dica amorosa: A solidão não existe, ela é o abandono que pratico comigo mesmo. Eu tenho em mim a dose de amor correta de tudo aquilo que necessito e se me der este amor, se entender que sou eu que curo as minhas relações e não a presença do outro, de quem ainda me mantenho dependente, em pouco tempo poderei estar inteiro para viver uma gostosa relação de amor com meu próximo.