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DORES E CARÊNCIAS DO FEMININO

Na vida de cada ser vivente deste planeta, a contribuição do aspecto feminino da humanidade reflete o aspecto principal da Criação, pois a mulher como portadora do dom de imitar o Deus, oferece seu próprio corpo para que ele se torne o solo fértil por onde a vida material se concretiza.

Olho, observo, convivo, aprendo a cada dia de minha existência com várias mulheres, cada uma delas com suas maneiras de agir, sua peculiaridade, sua beleza, sua graça, sua dedicação e com os inúmeros conflitos que a consciência feminina apresenta em sua jornada de evolução.

Ser mulher é bastante difícil e complicado na minha visão masculina e também de psicólogo clínico, inclusive também na de muitas mulheres que assim confessam e por ter em cada dia diversas delas em meu caminho nas relações profissional, pessoais e afetivas, escuto seus reclamos e suas dores.

Há muitas dores, há muitas queixas, muitos machucados emocionais e espirituais em cada mulher que divide o espaço sagrado da existência humana e algumas manifestam estas dores explicitamente através dos seus atos cotidianos.

Tenho observado e aprendido que na psique de cada uma há um conjunto de queixas estabelecidas que se manifestam a cada momento que ela não se sente segura e protegida pelo masculino ou pela vida e a sensação de insegurança faz com que ela reclame e reivindique aquilo que ela considera como justo para si.

A grande maioria delas chora, se magoa, reclama, falam insistentemente da sua insatisfação e do desalento que sentem por se sentiram inseguras, não amadas e desprotegidas diante dos inúmeros desafios que o aspecto feminino tem que enfrentar. A maior queixa que elas manifestam é a afetiva e nela se incluem a dificuldade dos homens a entenderem….e assim não a protegem… Voltaremos ao assunto!!!

Ouvi ainda esta semana num programa de radio um comentário de uma mulher que se queixava do custo emocional de ser uma mulher hoje, que trabalha, estuda, é esposa, é mãe e sempre é esperada dela que esteja bem, em harmonia, com sorriso nos lábios, seja prospera e realizada, além de se apresentar bonita e gostosa para todos que a cercarem 24 horas por dia. Aí questiono, se é esperada dela ou ela mesma espera e as vezes não consegue?

No final de 2005, num ritual xamânico que realizamos numa chácara em São Francisco Xavier, SP, onde estavam previstas as presenças de 15 pessoas, sendo 12 mulheres e 3 homens, no dia marcado os homens não puderam comparecer, e estava eu com 12 mulheres para realizar o trabalho e durante seu desenrolar, já na parte da tarde num determinado momento, senti uma presença espiritual feminina e durante 25 minutos canalizei uma mensagem profunda e emocionante de uma consciência feminina que era puro amor e sua aparência era toda dourada, e não me era possível ver seu rosto, pois nele havia um vazio, um buraco.

Este ser maravilhoso que depois de algum tempo fiquei sabendo se tratar da Mãe Rosa Dourada, (o buraco em seu rosto representava a perda da identidade feminina pelas mulheres e este buraco precisa ser preenchido com a volta da consciência do sagrado feminino) se dizia mãe de todas as mulheres ali existentes e amorosamente as tratava como filhas muito amadas, rogava que cada uma se voltasse novamente para seus aspectos femininos, pois a mulher desta geração havia se esquecido do Sagrado Feminino em seus corações e esta ausência estava criando uma geração de mulheres desarmônicas, infelizes, masculinizadas e as consequências para esta geração e para as gerações futuras seriam de sérios danos por ser a mulher formadora da psique humana e  matriz da vidas e que estando a mulher desestruturada, naturalmente o homem estará.

Desde então, comecei um trabalho visando seguir aquela orientação de ajudar a mulher a resgatar sua feminilidade com vivências do Sagrado Feminino, nas palestras e outros cursos que ministros, mas principalmente com toda mulher que visita nosso consultório e esteja com as queixas características que as mulheres apresentam em suas existências.

De fato constato e convivo diariamente com estas dores, com estes desencantos, com queixas amargas e profundas das dores da alma e percebo que a grande maioria não se dá conta de fatores por demais importantes que  ela deixou de olhar e vivenciar a partir do momento que começou a se tornar provedoria de si mesma e muitas também de suas famílias.

O preço tem sido alto e doloroso. A mulher tem estado perdida. Sua mente funciona de uma maneira ampla através dos nossos dois hemisférios cerebrais. O masculino tem normalmente um dos lados do comando, a razão que é o hemisfério esquerdo mas a mulher, além do seu hemisfério da emoção que é o lado direito também atua com o hemisfério da razão, e a leitura que até hoje consegui fazer é que se torna excessiva as conexões que ela faz com suas memórias presentes e as ancestrais e sua cabeça acaba tendo enorme dificuldade de entender e processar seu funcionamento e lidar com a quantidade de emoções que a toda hora cai na sua mente e coração.

O inconsciente coletivo percebido pelo dr. Jung representa o conjunto de todos os pensamentos e energias emocionais e mentais emitidas pela humanidade e eles ficam em algum lugar eterico onde nossa mente de hoje pode acessar a qualquer momento e trazer esta massa de sentimentos e pensamentos para o presente, manifestando principalmente o que esta machucado, o que dói, o que é repetido por quase todas as mulheres ao longo de milhares de anos.

Independente de algumas correntes do pensamento psicológico e de manifestações feministas que podem vir a divergir do que já afirmei em vários textos e confirmo minha convicção de hoje, há dois fatores importantes e favoráveis que acontecem com a menina e não com o menino e certamente provocam muitas dores emocionais numa determinada fase de desenvolvimento e ficam reverberando na psique da mulher adulta eternamente se ela não se der conta e resolver enfrentar isso com seu lado adulto, mais estruturado e com seu perdão e acolhimento.

Aproximadamente entre 2,5 a 3,5 anos, a menina vive duas situações que a partir da percepção dos Drs. Freud e Melanie Klein e que pesquiso insistentemente em cada dor feminina que convivo a cada dia e que constato sempre assim existir.

A percepção da menina nesta fase é de que não tem um pipi e que apenas o menino tem, no exato momento onde começa a entender a vida pelo concreto, faz com que tenha um questionamento:” por que ele tem e eu não tenho?”, cria um sentimento de inadequação porque já percebe desde esta fase que aquele que tem um pipi a sociedade dá mais direitos e poderes e por qual motivo para mim não é assim?

A solução encontrada na cabeça da menina de 3 anos para solucionar isso, é criar um mecanismo de defesa chamado fantasia e nesta fantasia ela idealiza que é linda, maravilhosa, uma princesa, uma fada, etc, e  se for sempre muito bonita, todos irão aceita-la, amá-la, admira-la e aí vai desenvolver na necessidade de ser bela a compensação pela frustração de não ter um pipi. Observem quantas mulheres sofrem por não serem tão belas? Qual é a sua parte que exige e cobra a beleza?… a sua criança interior.

Então quando muitas mulheres que viveram isso e depois numa relação afetiva que pode estar desgastada e na lida do dia a dia, cansou deste papel de estar sempre bonita e gostosa, porque naquele momento não se sente assim, acaba cobrando que os homens a querem sempre assim, mas foi sua própria necessidade de segurança afetiva desenvolvida na infância que criou esta necessidade e fez com que o homem que tem uma capacidade de leitura inferior ao feminino ficasse prisioneiro do aspecto corpo, formas e beleza.

Infelizmente a mulher criou, sustenta e mantém este processo na cabeça e desejo do homem e por isso paga o preço e consequências que vem no mesmo pacote de emoções. Você mulher, quando não esta ou não se sente bonita, ou quando a outra é mais bonita que você, como se sente? Então tente sentir, qual é a parte dentro de você que reclama e exige esta beleza?

Muito da queixa que a mulher apresenta tem a ver com esta pequena e importante história que acontece em sua vida e que pais, educadores e sociedade não tem noção das consequências futuras na vida da mulher adulta e consequentemente em toda humanidade.

Por este motivo há uma queixa eterna na grande maioria das mulheres, que a manifestam cada momento e não entendem por que é assim e no afetivo esta dor é colocada com mais intensidade. Pode também aparecer em outros momentos, mas se observar bem, geralmente está relacionado à perca do poder.

Porém, outro evento de tanta importância  como o anterior ocorre com a menina por volta de 3 anos que necessita se desapaixonar pela mamãe para ao se apaixonar pelo papai possa estabelecer o critério de sua sexualidade na vida adulta. As teorias e práticas clínicas apontam que se não houver esta transferência de afetividade da mãe para o pai, poderá ocorrer um desvio na sua escolha sexual futura.

O rompimento com sua mamãe é por demais doloroso, pois esta ligação afetiva visceral e que representou até então um porto seguro e ao ser atraída pelo papai para realizar esta conexão importante ao seu amadurecimento emocional e sexual, perde a segurança que a mamãe lhe dava e isso lhe promove uma enorme dor e insegurança e vai buscar na figura masculina esta complementaridade que lhe falta desejando que a figura masculina, primeiro do pai, depois a afetiva na vida adulta lhe preencha e complemente como a mamãe fazia e dificilmente irá encontrar este modelo no masculino pois jamais o homem/pai/marido/etc. irá preencher esta lacuna emocional que ficou desde tenra idade. Este é um grande desafio em ser mulher em nossa sociedade.

A sua busca por este preenchimento é tão grande que até então a mamãe que era seu porto seguro se torna a rival pois ela a mamãe tem o homem que esta criança deseja e idealiza para si.

(Assim visando ter este homem/papai para si começa a competir com a mamãe, e devido esta relação, se torna de maneira geral competitiva com as outras mulheres de sua vida e isso tem um preço enorme para toda a humanidade. Em muitos momentos chego afirmar que o problema da mulher não é o homem e sem a outra mulher)

Por este motivo a mulher reclama tanto do homem, pois devido a insegurança gerada na infância com o rompimento com a mãe, ela tenta preencher com o afetivo masculino o buraco que ficou e se desespera, reclama, cobra, esperneia quando o homem de sua relação não corresponde esta sua necessidade infantil e não faz as coisas do seu jeito para lhe dar segurança.

Em geral a mulher sempre é mais amadurecida que o homem, mas quando entra no afetivo uma enorme quantidade age infantilmente esperando que o “papai” que aquele homem simbolicamente representa venha lhe dar a segurança afetiva desejada e como ele, homem, é diferente, funciona diferente, não consegue entender esta necessidade, pois ele não a tem em si e de maneira geral a mulher funciona esperando que este homem faça a mesma leitura que ela e ele não faz.

Em 2001 escrevi um texto chamado O SEXTO BURACO onde falava do buraco que toda menina herda em sua formação educacional e promove na mulher adulta uma ansiedade e insegurança que se manifesta muito na necessidade quase compulsiva de ter que falar, falar, falar para que não ouça a queixa permanente de sua criança interior que esta de plantão exigindo indenização da vida pelos seus sofrimentos.

Quando a mulher entra numa relação afetiva ela leva junto este buraco emocional e um conjunto de emoções como a sensação de que falta algo em sua vida que não sabe dizer o que é, as dores da castração por não ter tido um pipi, a competição com a outra mulher que lhe gera a necessidade de ser ou estar mais bonita do que outra, a profunda necessidade de ser amada incondicionalmente e estes como principais fatores faz com que jogue em cima da relação afetiva um peso enorme e há muito sofrimento e cobrança quando o homem não corresponde suas necessidades e expectativas.

Constato no consultório pelos relatos ouvidos que há duas grandes cobranças/queixas na vida de quase todas as mulheres:

– primeira diz: -” não tenho um amor, estou ficando velha e ainda não casei, todas as minhas amigas tem um amor ou marido, o que tem de errado comigo?” Não ter um parceiro afetivo que a proteja e a nutra é por demais doloroso.

– segunda diz: “quando ela tem a relação afetiva e aí reclama não aguento mais ele, ..ele não entende…. parece que todo homem é burro…. nossa ele parece um ogro…..  já falei milhares de vezes e não adianta….eu pedi e ele disse não…. O homem da minha amiga fez ou deu e ele não faz nem da…..

Entre tantas coisas a mulher precisa entender, que como os homens funcionam praticamente com um hemisfério, o nhem-nhem-nhem que ela manifesta, o falar em demasia que é característica sua, o insistir muitas vezes num mesmo assunto, faz com que a grande maioria dos homens deletem o falatório e depois de algum tempo passam a não escutar mais o que a mulher fala. A cabeça dele não aguenta tanta informação e tanta cobrança.

Aqui vai um grande engano da mulher, pois busca um parceiro idealizado, alguém que a complete e preencha seu buraco emocional, alguém que faça as coisas do seu jeito para lhe dar segurança e tem sido uma batalha intensa mostrar a muitas mulheres que o homem não tem suas necessidades emocionais e afetivas, portanto ele não sabe como ela mulher se sente, pois ela normalmente não fala pois gostaria que o homem a entendesse como a outra mulher faz, sem precisar falar, e cobrar que ele venha preencher um buraco ou necessidade que é sua, então isso não é uma relação afetiva é um serviço de alvenaria, de funilaria ou de reforma e construção.

A presença de um homem na vida de uma mulher visa lhe dar companhia, lhe amparar afetivamente, ser a âncora que determina/estabelece a razão na relação, diante da carga emocional intensa que envolve a vida de cada mulher, mas desejar que ele funcione do seu jeito, que faça as coisas de sua maneira, que seja como quer, há um hiato e desajuste bem grande.

O interessante e aprendido é que quando um homem faz tudo o que a mulher deseja ela perde o interesse por ele e passa a se interessar por outros homens, pois por ter desenvolvido a competição com a mamãe desde pequena, ela precisa diante do seu homem sempre ter alguma coisa a conquistar.

Tenho tido a felicidade de ajudar muitas mulheres a saírem das queixas, e isso é feito com cada reclamo que ela manifesta, onde indico a necessidade de olhar qual parte sua que se queixa, qual parte que cobra do outro algo que eu mesmo deixo de fazer por mim e muitas relatam que de fato sentem como se o homem ou a vida é responsável por um dor que há dentro de mim e não consigo identificar ou lidar.

E também conseguido com algumas queridas que percebam o quanto jogam de suas insatisfações  pessoais e necessidades de segurança em cima dos seus parceiros, como se eles tivessem a obrigação de corresponder suas necessidades e preencher as suas vidas pessoais a olharem para estas dores e aquelas que conseguem ter este olhar se torna uma mulher amadurecida afetivamente e com a chance de ser mais feliz e fazer uma melhor escolha para completar seu coração.

É  muito comum ouvir a queixa:” a minha vida não está boa porque ele….. Ou é por causa dele que e estou assim, sofrendo, me sentindo rejeitada, desprezada,…. Ah eu não consigo aceitar que ele não quer mais nada comigo   (e chora compulsivamente muitos dias com enorme dó de si mesma, fazendo de sua vida um eterno velório )…”. Tudo isso e muitos outros aspectos são manifestados nas dores e carências, sempre projetando no outro, um alguém que não me ama, não me aceita, não me nutre, ou mesmo que tem obrigação de….

Elas são dores da infantilidade por terem sido desenvolvidas num fase ainda da menina pequena, e agora quando a mulher adulta a manifesta é uma perfeita criança choramingando porque perdeu a “tete” e é necessário que esta dor, esta queixa que brota as vezes explosivamente seja acolhida pela própria mulher.

Há nesta departamento de queixas do feminino muitas dores relacionadas à necessidade de proteção e amparo ligadas a figura paterna e elas são jogas em cima das suas relações e todos os machucados não resolvidos com papai são projetados no marido/companheiro e por este motivo, o homem que funciona com um só lado de um  hemisfério recebe múltiplas queixas da mulher, algumas justas outras injustas e ele deixa de ser seu herói, se tornando o vilão de sua vida.

Se você mulher quiser uma dica importante, aqui vai: “A mulher que faz do seu homem seu herói tem este homem para sempre, a mulher que faz do seu homem seu vilão pede-o a cada dia”. Quer que seu homem lhe proteja e lhe ampare, acolha-o com amorosidade, faça dele seu herói, incentive-o, encoraje-o. depois você vai me contar os resultados.

 A mulher tem o poder de provimento de sua cura emocional a partir do momento que ela entenda que o outro não é o responsável pela sua nutrição afetiva. Sua carência é sua carência e não foi o outro quem a criou e cada uma que olhar para suas dores e não a projetar no outro, pode verdadeiramente encontrar um grande caminho de cura e de alento. Quem olha com os olhos da carência e da dor, procurando encontrar no outro a culpa de suas dores, sempre estará sofrendo, mas quem olhar com os olhos da amorosidade e da generosidade para si mesma, pode encontrar muitos caminhos de cura e harmonia. A cura é uma escolha pessoal, espero que você reflita e escolha o seu melhor. Você o merece.

Irineu Deliberalli