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O Bebezão

Cada um de nós é uma diversidade de papéis sociais. Vivemos diariamente uma infinidade de situações, onde ora somos cidadãos, ora filhos, filhas, pais, mães, maridos, esposas, funcionários, patrões, transeuntes, motoristas, clientes, eleitores, amigos e muitos destes papéis se intercalam e são vivenciados quase ao mesmo tempo.

Viver bem, com qualidade, ser feliz, é saber viver cada um destes papéis com adequação e tirar deles, as experiências ou satisfações que cada um pode nos trazer ou acrescentar em nosso dia-a-dia.

Observando, analisando, pudemos concluir que tem um grupo de pessoas, na sua maioria do sexo masculino, os “Patricinhos”, (mas também encontrei várias entre as mulheres, as “Mauricinhas”) que são verdadeiros BEBEZÕES. Pedem chupetas, pedem tetas, mamadeiras, trocadas de fraldas, papinhas na boca e carinho e proteção o tempo todo.

É um grupo de pessoas, que pela maneira e superproteção com que foram educadas, só sabem receber, só esperam que as outras pessoas as nutram e criam entre suas relações tantos jogos emocionais e situações inusitadas, que chegam a provar aos seus pares suas necessidades, impotências ou incompetências de se cuidarem, escravizando e sendo escravizadas, por todas as pessoas de suas relações. São tiranos e são tiranizados.

E uma coisa interessante eu pude constatar, pois ao termos contato com outros membros da família, estes demonstram uma preocupação, uma obrigação de continuar atendendo as ridículas exigências destes adultos-bebezões, como se não tivessem alternativas, pois como eles são incapazes de se administrarem, só resta a mim, continuar fazendo este papel, mesmo que para isso, possa até pagar o preço da minha felicidade, ou mesmo vida.

Estas pessoas que têm estes relacionamentos com os bebezões são normalmente mães, pais, irmãos, tias, tios, avós, ou seja, pessoas da família, que participaram da escolha, de permitirem que o bebezão nunca crescesse.

Quando as entrevistamos, muitas demonstram sentimentos de raiva, revolta, inconformação, mágoa, cansaço e culpa, mas não vêm alternativa, a não ser agüentar a situação, como se fosse sua missão, nutri-lo e manter o bebezão no “não-crescimento”.

Infelizmente, a maioria destas pessoas, OS BEBEZÕES, são do sexo masculino. Foram infantilizadas em seu desenvolvimento, supernutridas e aprenderam, normalmente através da mãe, (pois a mãe é a matriz e passa a cada um de nós os principais valores afetivos) que administrar sua vida é ruim, é perigoso, que ainda não estou maduro suficiente para tal fato e que preciso ser cuidado.

Interessante, que no meu consultório, tenho recebido vários destes “Patricinhos” ou Mauricinhas” e ao trabalharmos seu papel adulto, de provedor de si, de ser responsável pela condução de sua vida, eles demonstram quase que um desespero por não saber por onde começar.

Está tão enraizado em suas entranhas psíquicas este padrão de dependência, que ao pensar que ele tem que se nutrir, ser responsável pela sua vida, se bastar, lhe provoca um verdadeiro pânico, chegando alguns a ficarem com muito sono, pois é o mecanismo de fuga. E a maioria deles neste momento, começam a faltar nas sessões terapêuticas, ou até chegam a desistir do processo.

Aqui levanto dois pontos para discussão e os dois se convergem para um só.

Primeiro: qual o motivo que leva uma mãe ou equivalente a fazer isso com uma pessoa? E segundo: qual o motivo que faz com que esta pessoa não queira sair desta situação?

Digo que convergem para um só, pois pude aprender que o apego, é o principal causador desta complicada e dolorosa doença psíquica chamada dependência.

A mãe ou equivalente, não está centrada em si, na sua vida, e elege o outro como fator de sua vida. Nutre, paparica, permite. Faz ao outro, como gostaria que alguém fizesse a si. Resiste a tudo que puder, para manter o mesmo padrão.

Lembro-me de uma mãe, que me procurou um dia, com um filho de 30 anos, o protótipo perfeito do “patricinho”, pelas roupas, postura, discurso e até beleza física. O pai queria pô-lo para fora de casa, pois ele não trabalhava, e a mãe o leva a mim, para ver se dava um jeito na situação.

Após 30 minutos de conversa com o “patricinho”, pude constatar que ele queria continuar daquela maneira, não queria fazer nada para mudar. Ao constatar esta realidade, sugeri à mãe na frente do filho, que ao chegar em casa, arrumasse a mala dele com tudo dentro e o colocasse para fora de casa. Pela minha percepção, seria uma das melhores maneiras de fazer aquele “jovem”, crescer e amadurecer para a vida,

O rosto daquela mãe demonstrou pânico.

Aí, então, ela implora ao filho para vir fazer terapia. Como a mãe insistiu, ele consentiu em vir fazer terapia semanal. Acertamos preço e horário e ela avisou que estaria pagando as sessões escondida do marido. Ele ficou de vir para a primeira sessão em 3 dias.

Cerca de 90 minutos depois de sua saída, toca o telefone. Era ela, a mãe, que pede para desmarcar o tratamento, pois ela concluiu que se fizesse o tratamento, não poderia continuar dando a mesada ao filho, escondida do marido e se não fizesse o tratamento teria este dinheiro para dar a ele até que conseguisse um emprego. Emprego que ele me falara que não queria ter, pois não se sujeitaria a receber ordem de ninguém e queria montar um negócio, mas não tinha capital, pois não trabalhava e o pai já não lhe dava mais nada…

Quantas mães ou mesmo pais, mantém este padrão com seus filhos? Certamente você deve conhecer vários. É um profundo apego, é uma necessidade de tomar conta de vida do outro. Eu mantenho o outro dependente, mesmo que me custe um preço alto, mas eu continuo comandando sua vida. Eu tenho o outro para mim. Mesmo que tenha crescido, ele ainda depende de mim, eu o nutro, ou pago suas contas, ou…, mas o importante é que ele não vive sem mim. Sou primordial na vida dele.

Quantos discursos já ouvi, de pais que dizem, “é, não dá para fazer isso ou aquilo por mim, pois eu tenho fulano(a) nas minhas costas”, falam isto como um lamento, mas também com um mórbido prazer de estar nesta armadilha e não “conseguir sair”.

É o apego. O profundo apego.

Certamente eu, que trabalho com a Psicologia Transpessoal, tenho a firme crença que são pessoas que já tiveram vivências num passado, em outras épocas, em outras vidas, não conseguindo uma relação de equilíbrio, e voltam buscando agora o equilíbrio, mas grande partes destas pessoas continuam mantendo o desequilíbrio.

Em muitas sessões de regressões, que pude fazer com diversos pacientes, é comum encontrar mãe ou pai, vivendo o mesmo papel em outras vidas, ou vivendo o papel de marido, esposa ou amantes, e nesta encarnação repetem outra vez o mesmo padrão de apego que já traziam de vidas anteriores.

Aprendi com meu trabalho que as relações humanas são uma intricada rede de comprometimentos que visa dar a cada um de nós, humanos, a competência de atingir seu self ou auto-atualização, ou independência de alma.

Por outro lado, o bebezão, parou sua vida. Parou sua evolução. Reclama quando não é servido. Crê profundamente, que o outro tem obrigações com ele.

– Ora, como vou fazer, ou como vou viver, se não me derem, ou me ajudarem, ou me deixarem?…

Desenvolveu o apego pela dependência, desenvolveu o apego em ser nutrido. É igual um sanguessuga ou parasita, que vive sempre em função do outro. Não desenvolveu a competência de querer se cuidar.

E o que me chama a atenção é que muitos não querem ter a mobilização de mudar. Não se sentem muitos disponíveis para serem adultos e aprenderem a cuidar de suas vidas. Acostumaram-se ao processo e serem nutridos – e dá muito trabalho eu ter que pensar em me nutrir.

Outros alegam que têm medo, medo de experimentar, de tentar, de expor-se, medo de… Certamente o medo foi passado pela família, pois enquanto eu o mantenho com medo, ele fica meu dependente. É uma triste e infeliz maneira de manipulação, para poder manter meu apego.

Muitos destas pessoas, ficam esperando a autorização da mãe ou do pai, para poderem crescer. Para poder namorar ou casar, para trabalhar, até para terem uma relação sexual, pois se o fizerem sem o consentimento dos seus donos, certamente a culpa não deixará que venham a trair seus proprietários.

Amigo ou amiga, se um destes dois aspectos é seu caso, pare agora. Pare tudo que estiver fazendo, olhe profundamente seu coração e questione-o. Olhe o motivo deste profundo apego, o do tomador de conta ou do submetido a conta. Veja de fato qual a sua verdade. Verifique se sua vida está boa assim, se tem qualidade. Se de fato é necessário este vínculo de dependência e se, principalmente, você e a outra pessoa, não merecem uma nova chance de começarem a viver?

Texto revisado por: Cris