Eu e o Espelho
“Se você quer transformar o mundo, mexa primeiro em seu interior”. Dalai Lama
A imagem pessoal de cada um, é um fator importante ao nosso desenvolvimento emocional e espiritual, e através desta auto-imagem que vamos construindo determinadas realidades de nosso livre arbítrio, nem sempre sendo realidades felizes, mas todas elas fazem parte do rol das experiências humanas.
Esta auto-imagem quando começou a ser entendida, creio que a partir do referencial que o outro me dava da aceitação ou não de nossa presença e aparência, deve ter provocado a necessidade de cada pessoa tentar entender o que o outro via em mim que eu não estava vendo, e sabe-se que as águas paradas e límpidas, em dias claros, eram usadas como os primeiros espelhos que se têm notícias, para que pudéssemos captar a imagem daquilo que o outro via em mim e eu não. Assim vamos aqui relatar a possibilidade de nos defrontarmos com três tipos de espelhos em nossas vidas.
A História nos conta que possivelmente o primeiro espelho surgiu cerca de 3.000 A.C. numa região onde hoje se situa o Irã onde eles retratavam apenas e de forma rudimentar as silhuetas das pessoas e no século XIII em Veneza começaram a se fabricar os espelhos com uma nitidez bem acentuada e no ano de 1.660, o Rei Luis XIV o popularizou na França, e não se sabe quando é que ele passou a fazer parte constante da vida humana.
Homens e mulheres utilizam-se do espelho todos os dias de suas vidas desde a hora que se levantam até na hora de dormir. Verdadeiramente, por uma necessidade interior a mulher se utiliza de uma forma mais intensa do que o homem, devido às necessidades emocionais, e o processo de narcisismo que de maneira geral o aspecto feminino de nossa sociedade vive.
Há um contexto social que coloca a mulher neste papel e ela sem perceber, apenas segue aquilo que lhe foi dado e tradicionalmente e ela tradicionalmente não olha o porquê e para quê isso foi feito, inclusive é comum escutarmos discursos de várias mulheres, que afirmam serem muito vaidosas e falam deste fato como se ele fosse uma grande virtude.
Alguns homens que têm o seu lado feminino mais aflorado, também mantêm esta necessidade narcísica de utilizar o espelho, visando como a mulher, buscar uma aparência bela, saudável, e tentar sentir qual a imagem que estarei passando ou como o outro estará me vendo e o que poderá estar achando ou pensando de mim.
O complexo conjunto de nossa natureza emocional possibilita ao ser humano viver uma incrível experiência de informações, de objetivações, de transcendentalidade, de crises, de observações, de diferenciados estados de humor e sentimentos e quase todos estes aspectos de cada um de nós, acaba tendo o espelho como grande companheiro e confidente e normalmente nós não nos damos conta disso.
O espelho é um utensílio, utilizado há séculos, para refletir a imagem de alguma pessoa ou de alguma coisa. Ele é usado nos toucadores, nos provadores, diante das nossas escovas de dentes e principalmente para pentear cabelos e arrumar a maquilagem, mas há os espelhos de nossas ruas, que são os carros estacionados, onde normalmente qualquer pessoa que por eles passam, dá uma olhada ou uma ajeitadinha em alguma coisa que julga não estar adequado a mostrar a outras pessoas.
Muitas pessoas passam horas diante dele, o espelho, e sem ele ou se não olhar para ele, não lhes dá a coragem de enfrentarem a vida ou mesmo sair de casa ou até do quarto, de tanta dependência exterior que desenvolveram de suas imagens físicas e se ela não estiver boa, ou mesmo excelente, algumas pessoas relatam que preferem se esconder e até sentem vontade de morrer.
Certamente esta maneira excessiva de usar-se do espelho, esconde alguma coisa lá dentro do seu ser, e esta pessoa tenta com uma boa aparência, com um belo rosto ou belo corpo, manter para seu ego uma aparência que lhe dê aceitação ou mesmo admiração social, porém, podem ter certeza, há dentro desta pessoa um sentimento de menor valia, um sentimento de recusa e não aceitação de si mesmo, e que só consegue se aceitar,quando lá fora, alguém a aceita ou elogia e esta pessoa sente-se confortada e esquece um pouco a sensação interior de desprazer que existe em sua vida.
Os padrões sociais, culturais e emocionais nos ensinam a olhar a imagem refletida e precisar achá-la bonita e se não estiver, tentaremos “embonitá-la”, para que o outro veja se possível a perfeição ou algo parecido em mim, pois este meu lado que me faz ficar muitos minutos ou horas ou precisar estar me olhando o tempo todo para ver como está minha aparência, esconde lá no fundo de todos nós um medo inconsciente que me diz: “ e se o outro descobre a verdade do quem eu sou?”
Qual será esta “verdadeira verdade” que eu escondo do outro e talvez de mim mesmo, que me recuso a olhar e não reconhecer lá no fundo de minhas entranhas e por causa dela, da fuga desta realidade interior, tomo todos os dias diversas atitudes, desenvolvo situações mentirosas e falsas em meu dia a dia e agrido ao próximo e a mim mesmo, visando me proteger apenas desta fantasia que um dia acreditei, e que virou uma enorme e gritante verdade que não consigo enfrentar?
Como vou suportar viver se o outro me descobrir e souber do real que existe dentro de mim? Da briga constante com minha mente e todos os sentimentos ou pensamentos que ela coloca para fora… como poderei fazer ou o que será de mim se eu for descoberto?
Então o querido amigo espelho, que tanto me mostra de minha aparência, de minhas belezas e feiúras desempenha em nossas vidas um grande e inconsciente mecanismo de defesa e tem nos servido como um instrumento da mente exterior, pois me ajuda a fugir de mim mesmo, de não olhar o que há de real em meus sentimentos, me dando a oportunidade de melhorar ou retocar uma aparência externa, que quando bem cuidada e harmonizada, apenas fortalece meu sistema “egóico”.
Certamente me afasta do meu ser interior ou daquilo que é minha verdadeira beleza, que não está naquilo que esta imagem reflete, mas na essência do Divino em mim, que vem sendo encoberta durante milênios, para que ao não refleti-la continuemos neste processo de grande manipulação espiritual e social que a humanidade vive.
Mas há outro espelho por demais importante de se ficar esquecido e precisa ser cuidadosa e amorosamente percebido. Falamos do espelho que fazemos com as outras pessoas com quem convivemos em nosso dia a dia.
Este espelho, que traz a nossa imagem reflita na outra pessoa dói muito de ser reconhecido e por este motivo eu tento boicotá-lo, quebrá-lo, destruí-lo, matá-lo ou qualquer atitude de agressão ou de fuga, pois ele me mostra aquilo que eu nunca quis reconhecer em mim e quando aquela pessoa desagradável vem me mostrá-lo, normalmente me irrito, julgo, agrido ou desconsidero.
Para que fique bem evidente o que estamos aqui declarando, nós afirmamos que toda pessoa que me incomoda, que me irrita, que acho alguma coisa sobre ela, tem algo em mim que faço um espelho. Pare um momento e sinta que estamos dizendo. Lembre-se de todas as pessoas que você considera chata ou desagradável em sua vida. Sinta com profundidade estas pessoas. Sinta no que elas mexem com você.
Fazer um espelho com alguma pessoa é ter uma atitude ou comportamento por demais parecido e quando eu reconheço no outro o que há em mim, o meu lado do ego ou da minha criança interior fica tão indignada que tenta agredir ou fugir do contato com esta pessoa.
Os espelhos humanos existem em nossas vidas e a toda hora o defrontamos ao nosso redor e quando deparamos na sua existência e temos que olhar para ele, poderemos gostar ou não do que iremos ver. E isso se torna um grande atalho que me faz feliz ou infeliz em minha vida, dependendo do padrão emocional de minhas vibrações, daquilo que escondo de mim mesmo e não quero assumir ou da crença que desenvolvi e me sustento nela, para não reconhecer o real que existe em mim.
Há a chance de cada pessoa que eu venha a conviver, fazer algum tipo de espelho comigo e vice versa. Quando falamos de pessoas, estas fazem verdadeiros espelhos emocionais e entre todos nós seres humanos, que estamos ligados numa única egrégora humana, numa única rede de energia planetária, este espelho acontece várias vezes num único dia e é ele que me dá o padrão de bom humor ou mau humor que tenho a cada momento de minha vida.
Será que você já entendeu o que estamos tentando dizer neste texto?
Se ainda não entendeu, vamos então tentar explicar, para que ao reconhecê-los, você possa ir criando uma nova consciência, tão necessária neste momento planetário, para que haja a cura e integração de nossas sobras em consciência crística.
Observe em sua vida, quantas pessoas mexem com você…
Olhe com bastante honestidade… Sinta aí no seu peito, qual é o verdadeiro motivo que ela mexe com você… Para que tenha plena certeza do que estamos falando, pessoas que mexem conosco são aquelas que provocam algum tipo de sentimento, tipo repulsa, de julgamento, de incômodo, etc, ou aquela pessoa que não consigo aceitar de maneira nenhuma.
Sinta aí dentro do seu peito, pois as respostas podem ser inúmeras……
– ela é arrogante
– ela é prepotente
– ela é fresca
– ela é estérica
– ela é maldosa
– ela é mentirosa
– ela é controladora
– ela quer se fazer de boa
– ela é inteligente
– ela é burra
– ela é mais bonita
São estas e tantas outras possibilidades que vamos encontrando em cada um de nós, ao estarmos diante de uma pessoa que nos incomode.
Tudo que incomoda faz em nós um espelho.
Encontramos uma ressonância em cada pessoa que sentimos algum tipo de trava.
Alguma coisa me nossa psiquê identifica uma semelhança. Reconheço que há em mim alguma coisa semelhante àquilo que me incomoda e que não quero ou me recuso a ver e ao ver, vem a sensação de desconforto e por este motivo, julgo aquela pessoa, que está mostrando algo que não estou disponível para enfrentar em mim.
Um grande e querido amigo, o médico Dr. José de Almeida, numa palestra nos falava que se você sai na rua e é assaltado, certamente havia alguma coisa em sua mente, psiquê, campo áurico, que atraiu para si este momento. Alguma coisa em você não está em harmonia que precisa ser assaltado, roubado, agredido.
Quando estamos em nós, no nosso centro, no centro da nossa essência ou Eu Superior, ele nos esclarece e liberta de tudo aquilo que poderia vir nos magoar e a nossa evolução, nossa cura, nossa subida a um estado de consciência superior, só se fará quando eu aprender a reconhecer e ficar no divino que está em mim.
Enquanto eu não reconhecer o espelho que faço com cada pessoa desagradável que encontro em meu caminho, e que esta pessoa está na minha vida e destino como um professor a me mostrar o que preciso curar em mim, vou continuar a fugir de mim mesmo, vou continuar não me reconhecendo com um Ser Divino e para tal, primeiro tenho que ter a humildade de conhecer que o Ser Divino, está vivendo uma profunda experiência humana.
Nesta profunda experiência humana, eu desenvolvi um lado sombra, e é deste lado sombra que tento fugir de toda a maneira, mas a Criação, em toda sua infinita sabedoria, colocou o espelho do outro na minha vida, para que eu pudesse me reconhecer naquilo que vejo nos outros, e juntos, eu, o outro e o espelho que refletimos entre toda a humanidade, possamos criar novamente o caminho que nos levará à percepção da consciência superior.
E ela que vem a representar o terceiro espelho que só encontro à partir do meu coração, morada do meu Cristo Pessoal, e onde verdadeiramente poderei me acolher e me curar de todas as ilusões que desenvolvi e através dos dois espelhos, o da matéria, onde tento me esconder se embelezando, e o espelho que o outro me faz, que me mostra o tempo todo aquilo que tenho me recusado a ver.
No nosso coração há este outro e definitivo espelho, o real e que necessariamente tem que ser reconhecido, pois lá é a imagem refletida é da nossa alma, por isso é lá que se manifesta nosso Eu Superior ou nosso Cristo e apenas o caminho de coração poderá curar tudo aquilo que com os outros espelhos tentei esconder até agora. Aprenda a olhar-se no espelho do coração, que certamente será uma das melhores escolhas que fará para sua paz e felicidade.
Irineu Deliberalli
Psicólogo e Xamã
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