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E Quando a Mulher Quer Ser Protegida e o Seu Homem é um Bebê?

Eu tive uma infância pobre e desde meus 8 para 9 anos, precisei aprender a ganhar algum dinheiro para poder pagar a matiné do domingo à tarde no cinema do bairro, onde toda a turma ia e meus pais não tinham condições de dar a tradicional mesada, pois com muito sacrifício, o dinheiro que não sobrava era para sair do aluguel e pagar a construção da casa própria, que meu pai conseguiu realizar nesta etapa de nossas vidas.

Assim, desde esta idade eu ia aos domingos, vender pipas na feira, junto com meu irmão Roni, depois vendia gibis e revistas de fotonovelas, vendia palitos de dentes, com ajuda do tio Rodolpho, trabalhei na banca do Ismael vendendo bijouterias , trabalhei com o Baixinho vendendo armarinhos e também construí um carrinho demão, com caixote de madeira e rolemã como rodas, para fazer os tradicionais “carretos” para as senhoras que não podiam com o peso de suas sacolas. Naquele tempo quase tudo era comprado na feira, não tinha acontecido ainda o boom dos supermercados.

Desde esta idade, eu aprendi a ganhar meu dinheiro e tudo isso era realizado aos domingos, numa feira que fica entre Cambuci e Aclimação, em São Paulo, onde atualmente eu moro e que por tradição, quando estou em casa aos domingos eu a visito para comprar minhas frutas e legumes da semana.

Hoje, domingo, voltando com minha sacola bem pesada, passei pela porta de um tradicional açougue que fica apinhado de pessoas por volta das 11,30 horas, e na fila que se formava esperando o atendimento, me chamou a atenção um casal, que aparentavam ter entre 30 e 35 anos, onde ela grávida, passava as duas mãos no rosto dele, oferecendo todo carinho possível, e dava-se para notar o rosto meio transtornado que ele fazia, apesar daquele gostoso e suave carinho, que pela intensidade e delicadeza eu confesso que tive vontade de também receber carinho semelhante.

Esta cena, me fez intuir alguma coisa que ali acontecia e a pensar nas experiências da minha vida, na minha criança interior, e na criança interior de todas as pessoas que tenho atendido clinicamente nos últimos 23 anos ou nos cursos que ministro e que provocam conversas onde as pessoas expõem seus reais sentimentos e emoções.

Como é de costume, no treino do psicólogo, tentei entrar no papel daquelas duas pessoas e buscar intuir o sentimento real que cada um estava vivendo, pois no consultório, com a egrégora que lá tem formada e a ajuda dos psicólogos do plano etérico,  é comum este fato acontecer, mas alguma coisa em meu coração ou psique disparou um gatilho e nos 200 metros que se passaram até eu chegar à minha residência, este texto já estava pronto em minha cabeça, faltava apenas colocá-lo no papel.

O momento presenciado era afetivo e ao mesmo tempo patético; ela se preocupava em nutrir aquele homem, talvez tentando mostrar que as coisas não eram daquela maneira que ele pensava, ou a atitude dela era um pedido de desculpas por alguma coisa acontecida, mas o empenho dela era total para ajudar que as feições dele saíssem da carranca que estava.

Ele era uma criança, um bebê desorientado e dava-se para entender que alguma coisa não estava saindo da maneira que ele esperava e aí a zanga, a cara feia e o comportamento de não acolhimento à sua companheira, que se esforçava para trazê-lo à energia da amorosidade.

Primeiramente tentei entender os sentimentos daquela mulher; com uma barriga de aproximadamente 6 meses, que ficava entre ambos, ela segurava o rosto dele com as duas mãos, dando todo o carinho possível, mesmo num lugar público e tentava dizer pela atitude, algo do tipo, “não é assim, ou você entendeu mal, ou não fica assim, que tem uma solução, ou me perdoe ou eu te amo, fique aqui comigo, não estrague nosso dia, etc”.

Ela me passou um profundo interesse para que ele saísse daquela situação emocional que estava, pois ela queria estar bem com ele, ela queria se sentir protegida como toda mulher quer se sentir pelo seu homem, mas ela estava diante de um bebê, bonito, forte, 1,80 metros que naquele momento estava fazendo uma dengosa birra.

A percepção que tive daquele momento me levou a vários caminhos do pensamento, baseado nas experiências que vivo em meu cotidiano, nas histórias de relacionamentos com quem convivo, e sem saber exatamente o que acontecia com aquele casal naquela recepção do açougue, lembrei-me que há uma história comum entre os homens e as mulheres, que se manifesta a cada dia, com a maioria das pessoas com menos de 40 anos e que se repete, se repete, machuca, magoa, desestrutura, faz sofrer e cada um, sem ter consciência do que ocorre, ficam esperando ou cobrando do outro uma determinada atitude, que talvez não venha ocorrer.

Masculino e feminino se encaixam, é dual, fazem parte da estrutura e da própria necessidade de expansão do universo, por isso há o encaixe, um não vive sem o outro, são companheiros eternos, deveriam estar se amando e se ajudando mutuamente, deveriam estar se acolhendo, se embalando, crescendo, se glorificando e se entregando às experiências que este ajuntamento de polaridades, proporcionam a todos nós humanos.

Padrões educacionais, sociais e religiosos têm nos tirado, mantido ou transformado os comportamentos humanos, e mesmo entendendo que tudo caminha para a evolução, para o crescimento e para um fim comum, muitos enganos são cometidos nas experimentações da vida humana e nas relações afetivas.

No meu trabalho, encontro-me diariamente com um grupo de mulheres que na sua maioria tem entre 25 e 45 anos e há uma queixa generalizada, quanto à maturidade dos homens em geral que aparecem em suas vidas. Algumas dessas mulheres sofrem em demasia, pois sentem a necessidade feminina de ter um relacionamento com um homem para lhe proteger e a cada uma delas que tenho a oportunidade de conviver, devolvo uma pergunta que não conseguem responder ou se sentem bem pouco à vontade ao fazê-lo:

“- Como você se portaria diante de um homem forte, decidido, bem resolvido, que sabe o que quer, e principalmente não faria do seu jeito, que lhe colocaria limites todas as vezes que tentasse controlar sua vida e lhe dizer o que é certo e errado, que não se importasse com seus chiliques quando tivesse tanta pressa para que as coisas acontecessem e demonstrasse uma identidade própria e não te obedecesse cada vez que quisesse mandar em sua vida para se sentir segura?”

Estas mulheres que falo, e quem sabe talvez possa também ser a história da mulher do açougue, são poderosas; desenvolveram sua competência profissional, passaram a ganhar justamente seu dinheiro, acharam seu espaço próprio na sociedade, a grande maioria é independente, conduzem suas vidas, são determinadas, batalhadoras, vencedoras, ou seja, são mulheres com alto grau de desenvolvimento do seu papel masculino e baixo grau de desenvolvimento do seu papel feminino. Onde é que acontece a sua maior dificuldade?

Vislumbro aqui, que o baixo desenvolvimento do seu papel feminino gera duas dificuldades a serem entendidas e vencidas. A primeira é a própria imaturidade da mulher. Ela com justiça cobra maturidade do seu parceiro, e não percebe quanto é ou se torna imatura à partir do momento que desenvolveu  em seu papel masculino, uma ânsia muito grande em ser poderosa, em ter controle sobre sua vida, em ganhar bastante dinheiro, em ser destaque naquilo que faz, e na sua necessidade quase doentia de ser bela, ou mesmo de ser mais bela do que aquela….Falo aqui, não do direito que a mulher tem de ter, mas na maneira que ela tem desenvolvido este sagrado direito.  Podemos entender este comportamento como maduro?

A mulher tem entrado em uma verdadeira prisão emocional. Há um mecanismo na psique feminina bem acentuada que se desenvolve quando ela entra na fase em média dos 3 anos, e ela compreende que não tem algo no meio das pernas e que o menino tem, que foi chamado complexo de castração, e com respeito à todas as feministas e congêneres, que normalmente odeiam esta constatação na psicologia do feminino, mas a cada mulher que atendo como psicólogo clínico este padrão ainda não resolvido na maioria das mulheres, se apresenta como uma grande ferida emocional aberta em sua criança interior, e por causa dele a mulher age, compete, disputa, e desenvolveu necessidades chamadas neuróticas de ser ou ter e paga um preço enorme por isso.  O maior deles hoje é ser forte e poderosa e totalmente carente e solitária afetivamente.

O ciúme gerado neste momento da formação emocional, cria na menina e depois na mulher, determinadas necessidades que o menino e depois homem não apresentam. Mas esta sensação de não ter algo, persegue a mulher a vida inteira, e a faz reivindicar mais as coisas, cobrar mais pelos seus desejos, reclamar mais da vida de maneira geral, como se a insatisfação gerada na infância ficasse como uma grande dor e toda vez que tem a sensação de que alguma coisa vai lhe prejudicar, normalmente põe a boca no trombone, exige, e quer ser atendida em suas necessidades. Algumas mulheres conseguem afirmar que há uma sensação interna de injustiça contra ela, que não sabe dizer de onde vem.

A intensidade desta ferida emocional não cicatrizada irá dar a cada mulher o padrão de competição e de julgamento que manterá com a própria mulher e também com os homens em geral e são estas mesmas marcas da infância que movimentam a mulher a ser poderosa hoje em dia e ter ao seu lado, cada vez mais homens frágeis. Homens que não venha competir com elas, pois competir com as outras mulheres e com a vida profissional já é bastante estressante.

A sua segunda maior dificuldade está naquilo que o seu lado feminino lhe cobra e por não estar inteira neste papel, devido ter desenvolvido em demasia o masculino e não manter o equilíbrio da sua polaridade, ao precisar ser protegida pelo homem, que é a necessidade emocional de toda mulher, fica difícil, pela própria confusão de papéis que a mulher vive e devido esta confusão, acaba atraindo para sua vida, um homem frágil, que não será capaz de protegê-la e que em 99,9% dos casos ainda está preso em sua mãe e não tem a maturidade para viver este papel de protetor como o feminino de cada mulher necessita.

Por qual motivo isso está sendo assim?                                                                                                 Há uma explicação cósmica, que nesta era de Aquário o poder feminino voltará a comandar os destinos humanos, pois ele é o representante da Grande Mãe, da Grande Deusa/Mãe, e a mulher como guardiã da espiritualidade e do amor, voltará a ter papel decisivo, pois o feminino irá comandar este novo momento terreno, inclusive o feminino contido em cada homem.

Há algumas explicações psicológicas. Na criação da polaridade necessária ao equilíbrio da vida humana e talvez universal, o homem representa a razão, a mulher a emoção. Como a mulher nos últimos 30/40 anos tem desenvolvido mais seu lado masculino, pois a energia fora de casa, do trabalho é masculina, a mulher ao trabalhar e não estar mais em casa como sempre esteve nos últimos 7 mil anos, começou a desenvolver mais a razão, tornando-se tanto ou mais racional do que o homem.

Mas como não deixou de ser mulher, e a emoção, mesmo não canalizada de maneira adequada, é seu maior patrimônio, tem tornado a mulher, uma super mulher, rápida no gatilho, e cada vez mais com pressa de adquirir o domínio de sua vida ou das situações em que está envolvida, pois cada vez mais ela pensa e age como homem, mas os hormônios que produzem sua essência, são femininos, e aí começa o embate de que alguma coisa não encaixa em sua vida. Sou próspera, independente, tenho destaque social e sinto um vazio enorme no coração que não me deixa ser feliz.

É neste momento que faz falta em sua vida o necessário e equilibrador papel masculino, e ela quer ser protegida, pois esta é sua necessidade emocional básica, e acontece que ou ela está sozinha, apenas tendo casos, sem vínculos afetivos ou mesmo sem ninguém ou se relaciona com um homem frágil, assustado, com medo desta mulher, ainda bastante machista pelos padrões que ele recebeu da própria mãe, pois quem faz o homem machista é a mãe não o pai e este homem não se sente em condições de proteger esta mulher, pois na confusão dos papéis em que vivemos, este homem está perdido com a força da mulher e não foi preparado e educado para conviver com um ser tão poderoso e independente quanto a mulher da atualidade.

A energia masculina é a da proteção, mas para que ela se manifeste ela precisa ser acolhida pelo feminino, e o que menos esta nova mulher faz é acolher o masculino. Entendam minhas queridas mulheres que estão em contato com este texto. No seu desenvolvimento infantil, num determinado momento você mulher, rompe emocionalmente com a mãe para se apaixonar pelo pai, mas com o menino isso não acontece.

Ele fica emocionalmente ligado à mãe e ele não tem que romper nada e esta mãe por uma necessidade dela, também ela se mantém ligada ao filho, e o que acontece devido este não rompimento? Uma grande dependência emocional que o menino/homem continua a ter com a mãe e ao se tornar adulto ele transfere esta dependência da mãe para você e se não for acolhido, ficará bastante frágil e esta forte mulher de hoje quer ser protegida por um homem frágil que ela mesma não consegue acolher e respeitar, pois o vê como um menino mimado e às vezes até incompetente.

Onde está localizado o problema? Eu creio que ele está localizado na matriz da vida, neste mais difícil papel que existe na vida que é o de mãe. O homem bebê é um produto fabricado por mães. As antigas mães porque os mimavam em demasia e as mulheres atuais, por trabalharem fora e se sentirem culpadas por não ter tempo para dedicar a estes filhos, procuram dar a eles todas as facilidades possíveis, às vezes os cobrem de presentes, são permissivas, tentam suprir todas as suas necessidades materiais, em lugar de suas necessidades emocionais, e criam meninos/homens indolentes que não sabem se cuidar, e como ele vai proteger uma mulher tão forte e decidida, se ele aprendeu com sua mãe a ser protegido e ainda não aprendeu a decidir o que quer na vida e sempre precisou do apoio e amparo da mãe para funcionar?

Estes são os homens-bebês que encontramos hoje em cada esquina, pois atrás de cada mulher forte, decidia, vencedora e líder, haverá um homem fraco, indeciso, sem coragem e com muita dificuldade de tomar decisões, coisa que a mulher de hoje é rápida em fazer e o homem lento demais, por não ter aprendido.

Se você vive uma dificuldade semelhante em sua vida afetiva, só poderá ocorrer uma saudável mudança, se você primeiro, homem ou mulher, olhar verdadeiramente para si e ver como se porta, qual é a energia que atua, se você se vê como um homem-bebê está na hora de ir fundo em suas necessidades emocionais e entender que se quer uma relação afetiva de qualidade, você tem que ser aquele que protege para ser acolhido e a mulher que sente a falta deste homem maduro, ele só se tornará assim se você souber acolhê-lo, se respeitar a possível lentidão que ele apresenta em alguns aspectos de sua vida, pois ele não desenvolveu certos aspectos do papel masculino, por não ter-lhe sido ensinado, e você mulher certamente não desenvolveu certos aspectos do papel feminino por se espelhar em quem não tinha equilíbrio para tal.

Voltando à história do açougue, fica aqui apenas uma questão: em que momento destes analisados, você acredita que aquele casal estava?

Irineu Deliberalli

Psicólogo e Xamã