E Por Falar Em Amor…
Agora chove em São Paulo. Acordei cerca de uma hora atrás e ao me perceber ainda vivo a frase: …”e por falar em amor”… estava pronta em minha cabeça. Dei umas roladas na cama, tentando dormir mais um pouco, mas nada adiantou. A frase estava lá na minha cabeça e aceitei que havia mais um texto pronto, precisava apenas digitá-lo.
Ontem à noite fui dormir por volta das 4 horas, pois um dos meus “maravilhosos arquivos” veio à tona; sabe, daqueles arquivos teimoso, tinhoso, meio mal educado, tipo mala sem alça, aquele do popular carente, do tipo ninguém me ama… Tenho plena certeza que você que me escuta ou me lê nunca entrou em contato com algo assim em seu interior, não é verdade?
Há algum tempo respondendo a um rapaz de uma cidade do interior, que me escreveu sobre um problema seu de desamor, que se manifestou quando entrou em crise com sua noiva, ao descobrir que ela não era mais virgem, mas o problema gerado, não foi porque ela não era mais virgem, mas por ela ter mentido quanto ao fato em si, que o deixou inseguro, frustrado e entrou na sintonia do desamor. “ Se ela me mentiu sobre isso, deve mentir também sobre outras coisas. Como vou poder casar com ela?”
Neste momento enquanto estava respondendo o seu email, tentando lhe ajudar em suas reflexões e alívio de suas dores, escrevi o seguinte texto: POR NOSSAS ESCOLHAS… As pessoas que entram em nossas vidas são por nossas escolhas. Há um capítulo a ser escrito. As pessoas que saem de nossas vidas são por nossas escolhas. Há um capítulo que terminou. As pessoas que ficam em nossas vidas, são por nossas escolhas. Há uma história sendo escrita. Eu escolho as pessoas que entram e devem ficar em minha vida. Sendo do meu interesse esta pessoa pode ficar mais ou menos tempo. É como um livro, só o seu autor sabe quando está pronto e a história chegou ao fim, pois é escolha sua. Quando o interesse é comum, e escrito a dois, aí o livro vira uma enciclopédia. Uma enciclopédia é uma obra de uma vida toda e pode ser até da eternidade!
Ontem quando aquela “vozinha” da minha cabeça falava, ou melhor, reclamava da vida, consegui fazer ela parar, me centrei, conversei com ela pelo menos 15 minutos, vibrei o amor do meu Eu Superior para ela, coloquei ordem em casa, pois sabia que era um arquivo de uma vida passada e até senti seu peso do meu lado esquerdo, enquanto tentava convencê-la de que tudo aquilo que ela reclamava e sentia falta, ou se achava injustiçada, ou não concordava,normalmente eles são todos parecidos em suas manifestações, eram apenas memórias de outros momentos.
Hoje, falava para ela, meu nome é Irineu, estou em outro local, tenho outra vida, mas ela estava querendo que eu escrevesse a mesma história do passado, e eu tenho que escrever a história do presente. Ela estava lá querendo repetir as mesmas dores que já vivenciei em outros momentos, e eu falava para ela, que não necessito mais vivenciar estas dores no hoje, pois a minha consciência é outra e por este motivo que fiz outras escolhas.
Não pratico mais as mesmas coisas daquele passado. Tenho outra visão de vida e que agindo como ela agia, querendo repetir as mesmas dores, nada iria andar em frente, pois cada vez que ganhamos um novo corpo, renovam-se as possibilidades de escrevermos uma nova história e estes arquivos se encontram em nós para serem curados, e eu estava muito interessado em sua cura, pois sua cura era minha cura.
Depois deste diálogo interior, estando bem centrado, fui dormir e dormi bem; sonhei mas não me lembro de nada e acordei com esta frase… e por falar em amor… Mas num estado emocional de bem mais tranqüilidade daquele que ontem à noite me apareceu.
Sei que algo aconteceu entre meu Eu Emocional e meu Eu Superior e a vontade de sentar no micro para escrever logo este texto era muito grande e desde o momento do café da manhã, começou a haver um momento de muita reflexão: comecei a dar uma vasculhada em minha vida afetiva.
Olhei para momentos de alegria e de dor e para tristeza minha, me reconheci como parte da grande massa pensante da humanidade, pois mantinha ainda vivo os registros das dores e os registros das alegrias e prazeres, que também foram enormes, estavam bem distantes, quase esquecidos.
Lembrei então do meu trabalho na clínica, revi vários de meus pacientes, sua queixas, suas dores, seus desencantos e ficou bastante evidente para mim que há 2 movimentos muito importantes em cada um de nós, quando falamos em amor: Querer o amor e ter medo do amor.
Quero o amor, quero ardentemente o amor, quero que alguém venha até mim, se entregue incondicionalmente, me ame acima de tudo, me aceite do jeito que eu sou e não queira mudar nada em mim, aí certamente com toda esta segurança emocional, onde não serei questionado, poderei entregar meu coração, minha intimidade, meu carinho, meu sexo, mas que fique bem claro que tem que ser do meu jeito e não quero me sentir em nenhum momento ameaçado.
Aí comecei a questionar o que nos faz sentir ameaçado diante do amor. Quanto àquilo que todos mais querem é também aquilo que mais tememos. Sim, tememos entregar nossa intimidade a outra pessoa, tememos que o outro venha descobrir a minha fragilidade e vou justificando o que eu já sofri, ou vão me fazer sofrer novamente, ou, e se me fizerem sofrer tudo o que já sofri?
Aí está o medo se manifestando e quando ele se manifesta, é o desamor que aparece e toma conta do meu ser. Quando este processo acontece com qualquer pessoa, certamente entramos em crise, pois fico preso numa dualidade que incomoda muito.
Há um lado que quer e deseja ardentemente amar ou ter um amor, mas há outro lado egóico e estruturado em cima de arrogância, orgulho e vaidade, que não quer dar um passo à simplicidade, quer manter a mesma pose que tínhamos quando sofremos por amor, querendo que o outro me ame, mas que não quer abrir o coração para amar ou para doar amor a qualquer pessoa, pois manter aquilo que provocou a minha grande dor, ainda é mais importante do que amar, e aí ficamos presos na queixa que tenho medo de amar, para não ser magoado novamente.
O medo que justifico de não amar para que ninguém venha me magoar novamente é a grande resistência de nossas sombras interiores à nossa cura mais profunda. Sou amor, sou um fruto do Grande Amor Cósmico, mas agindo emocionalmente como uma criança mimada não permito viver a maior das experiências humanas que é uma relação de amor entre duas pessoas. A relação que pode nos permitir o maior crescimento possível a um ser humano.
O que cada um de nós quer é encontrar “alguém” que se encaixe, que possamos fazer uma troca gostosa, afetiva, amorosa, mas para que isso aconteça é muito importante que cada um de nós olhe bem para dentro de si e reconheça o que é que tenho que abrir mão em mim. O que é que tenho que mudar em mim para que este evento aconteça e me traga felicidade.
O que tenho que abrir mão das minhas estruturas de personalidade, para que eu possa acolher outra pessoa e apenas aceitá-la da maneira que é, sem tentar mudá-la, apenas amá-la por ser quem é entendendo que cada um de nós tem sua luz e sua sombra e qualquer relação de amor que eu venha manter, a dualidade irá aparecer, e eu também estarei mostrando minha dualidade à outra pessoa.
Haverá momentos que amarei e haverá momentos que não estarei na energia do amor, talvez até na energia do desamor, e como fica, ou ficamos neste momento na relação?
Como é que minha criança interior tem se disponibilizado para enfrentar uma vida a dois, onde não poderei ter controle total da situação, onde serão sempre escolhas a dois, para se manter a harmonia da relação e vou ter que diariamente renovar meus votos de amorosidade, de esperança, de paciência, de tolerância, assim como a outra pessoa deverá fazer comigo, por sermos seres em profundas modificações e ainda com uma enormidade de situações pretéritas a serem curadas em nossos arquivos?
Esta dualidade que para muitos de nós impede o amor não é percebida pela maioria das pessoas, pois esperamos um amor perfeito, esperamos alguém como um príncipe ou uma princesa, que venha nos nutrir e nos aceite incondicionalmente, mas não estamos disponíveis em nosso ser interior, a abrir mão de todas as exigências ou desejo de poder e controle que estão em nossa criança interior, para dar à pessoa que desejamos ao nosso lado as mesmas coisas que querem dela.
Olhe verdadeiramente para você, e veja se está disponível para se doar e aceitar incondicionalmente a outra pessoa em sua vida. Perceba quantas restrições mantemos dentro de cada um de nós. Quantas travas e quantos “senões” colocamos na frente do amor e então teorizamos bastante sobre o amor, mas normalmente não estamos disponíveis a vivermos um amor de verdade. Um amor feito de carne e osso e de alma e espírito. Com toda a dualidade que ele venha nos apresentar.
Como eu disse ao rapaz que teve o problema com a noiva e estava sofrendo por ela ter lhe escondido um fato, que culturalmente era importante na região em que vivem no Brasil: As pessoas entram em nossas vidas. Há um capítulo a ser escrito e quando o interesse é comum, e escrito a dois, aí o livro vira uma enciclopédia.
Olhe atentamente para seu interior. Sinta o que você já escreveu de sua história de amor. Qual a chance que você até hoje se deu para você para viver uma história de amor.
Qual a constatação que você chega diante destas poucas perguntas? Espero que não seja seu caso, mas esta reflexão e ao escrever este texto, só aumentou a minha convicção, que o nosso grande problema com relação ao amor, não é e nunca será o outro. A nossa grande e milenar dificuldade está dentro de cada um de nós. De não vivermos dentro de nós uma saudável relação de amor. De não me sentir merecedor de amar e ser amado.
Quando vim desenvolver meu lado sombra nesta dimensão, pratiquei por inúmeras vivências atitudes contrárias ao amor. Despotismo, tirania, orgulho, vaidade, rigidez e tantas outras experiências marcaram nossas vidas na dimensão terrena e estes arquivos que foram muito fortes estão aqui dos nossos lados, esperando nosso acolhimento para serem curados e transmutados.
Ao entender isso, saio da natural queixa que estes arquivos contém e passo a olhar para mim com mais amorosidade, com mais tolerância, com mais aceitação, e se assim fizer, estarei dando a chance de escrever talvez uma história que ainda não tenha escrito nesta dimensão humana que é viver uma gostosa e feliz história de amor.
Todos nós queremos viver esta história, mas ela não acontecerá de maneira mágica, isso é só em contos infantis e ela só poderá acontecer, quando colocarmos a energia do nosso coração, do nosso interesse, do nosso profundo desejo de vivermos a experiência… e por falar em amor… Aprendi que viver o amor é um profundo ato de comprometimento com a vida. Você está a fim de se comprometer com a vida e com o amor?
Irineu Deliberalli
Psicólogo e Xamã
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