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CIRCULAR OU LINEAR: QUAL VOCÊ É ?

Creio que, desde a existência do primeiro ser humano no planeta, algo começou a ser sentido pelas mulheres e também pelos homens – que havia uma diferença importante e fundamental entre ambos, e não falo do que está no meio de nossas pernas, pois esta diferença é física e facilmente observável e sentida.

Falo das diferenças emocionais e comportamentais que ambos apresentam e, por não serem entendidas pela maioria dos seres humanos, criam conflitos, cobranças, desavenças e dores emocionais, muitas dores emocionais em ambos os lados.

Alguns livros publicados nas últimas três décadas começaram a nos mostrar as diferenças comportamentais que estão relacionadas à dinâmica de cada sexo, que é regido pela conjunção dos hormônios que cada um contém e, principalmente, pelo propósito do universo para cada um. O universo tem um propósito para cada um e quem se esquece disso, sai da lei da harmonia que ele mantém e que visa nos proteger de nós mesmos, ou seja, nos proteger das insanidades que o ego humano tem criado desde que começamos a habitar este sagrado planeta.

Cito, entre tantos livros, apenas: “Homens são de Marte, Mulheres são de Vênus”, de autoria de John Gray e os livros “SHE e HE”, de autoria de Robert A. Johnson, cuja fundamentação se baseia no princípio de que mulheres e homens são diferentes e tentam fornecer muitas informações importantes sobre o funcionamento emocional de cada um dos sexos, com base em pesquisas, observações e intuições. Recomendo-os a todos que desejarem se conhecer um pouco mais e entender melhor como funciona a outra pessoa com quem se relaciona, porque estes livros trazem informações importantes e que certamente nos ajudarão a entender melhor a natureza humana.

A mulher tem a necessidade de falar e expressar seus sentimentos e, diante de tensões, pressões ou incômodos, precisa colocar para fora o que está sentindo, não importando se o que fala tem ou não coerência, mas tem a necessidade fundamental de falar dos sentimentos e o que está acontecendo ou o que a está incomodando. Por este motivo, ela precisa discutir a relação tantas vezes. A mulher é circular.

Já o homem, por ter uma dinânima peculiar e diferenciada, não tem esta necessidade de falar tão acentuada e nem de discutir a relação tantas vezes. Diante de uma emoção mais forte, de alguma pressão ou qualquer coisa que venha a mexer com a sua segurança pessoal e emocional, ele se recolhe e precisa entrar na caverna para elaborar o que está acontecendo. Só depois de elaborar e entender seus sentimentos e todo o contexto, é que ele terá condições de falar e aí ele sai da caverna e volta para a vida cotidiana.

Aí ele pode até discutir a relação, mas enquanto não elaborar os seus sentimentos – e ele o faz em silêncio, não falando – ele foge de discutir a relação e, se for pressionado e cobrado, ele se irrita e pode ficar agressivo. E este é um fator que as mulheres cobram tanto, porque ao ter um problema, ela precisa de certa maneira “vomitá-lo” e ele, de certa maneira, precisa “ruminá-lo”. O homem é linear.

Esta diferença fundamental entre os sexos tem proporcionado, ao longo da vida terrena, muitas dores e sofrimentos, pois cada um dos sexos espera que o outro funcione exatamente como si próprio, o que lhe daria mais segurança emocional. As cobranças de ambos os lados tem sido enormes e o desrespeito, igual, na mesma proporção, esquecendo-se que cada um é um universo pessoal, e não podemos ser feitos à imagem e semelhança de ninguém que não seja o Deus Criador.

Vamos tentar analisar um pouco o que estas diferenças promovem em nossas vidas, sobre as expectativas que fazemos sobre a atuação do outro. Certamente poderemos verificar quantas vezes já agimos com o sexo oposto sem conhecimento de causa, magoando, acusando ou criticando, ou não tendo entendimento e paciência para que a relação tivesse uma qualidade melhor e fosse mais feliz, apenas por não entender que ele ou ela não funciona como eu gostaria ou desejaria, mas que existe em cada um uma diferença que, se entendida, pode ser o grande tempero da relação.

A mulher é circular. O que quer dizer isso? Isso significa que ela tem uma competência mais desenvolvida para lidar com as questões práticas da vida e também as emocionais, pois ela funciona normalmente com os dois hemisférios cerebrais. O hemisfério direito da intuição/emoção e o esquerdo da lógica/razão.

Como estes dois hemisférios estão divididos pelo Corpo Caloso, cuja função é permitir a transferência de informações entre um hemisfério e outro, fazendo com que eles atuem harmonicamente, a vida de uma mulher está sempre oscilando entre a razão e a emoção. Por este motivo, ela tem uma facilidade maior de entender os processos humanos, papel que, como mãe, tem que saber executar, pois em muitas ocasiões, isto pode salvar a vida de um bebê, que ainda não sabe se expressar para dizer o que sente.

Podemos pensar que esta dinâmica permite à mulher também uma mudança de humor mais constante e acentuada. Por ter a função emocional tão exacerbada, em muitas ocasiões, o seu lado razão acaba sendo consumido pela emoção e ela se torna inteiramente emocional, não usando sua própria competência interna e promovendo sofrimentos em sua vida.

De maneira geral, a mulher atua circularmente, usando os dois hemisférios. Porém, o seu lado emocional, se não estiver trabalhado, entendido e amadurecido, lhe dará a tendência de fazer transferências e projeções em cima dos seus parceiros, querendo, a qualquer custo, o poder sobre a vida dele, exigindo que ele a entenda, que faça tudo do seu jeito, que seja como ela deseja. Isto faz com que muitas delas se tornem uma pertinaz perseguidora de seus objetivos perante seu parceiro afetivo e, na maioria das vezes, sem perguntar a ele se é o que ele quer, mas por ela querer, coloca toda a sua energia para atingir seu objetivo e se frustra muito quando ele não corresponde ao que ela espera.

Neste momento, o papel principal que a mulher deveria desempenhar perante o homem, que é o de acolher, deixa de existir e a relação afetiva começa a terminar ou se arrasta durante anos, numa grande lamentação e sustentação do papel de vítima.

Aprendi, em minha prática diária no consultório, que uma relação só vai para frente se a mulher estiver disponível em todos os níveis para fazer esta relação dar certo. A vida afetiva e sexual, o lar e a família são atributos e competências femininas e, mesmo com a grande emancipação financeira e intelectual que a mulher ostenta nestes dias, sua necessidade emocional e espiritual é de ter o seu lar, a sua família, os seus filhos e o seu amor ao seu redor e, principalmente, de ser protegida pelo seu homem.

De maneira geral, a mulher atua com seu parceiro, esperando que ele a entenda e a atenda em todas as suas necessidades. Por se apresentar como um ser emocional, na leitura dela, ele deve ou deveria entender o que ela precisa ou quer e como ele funciona diferente, sente diferente, tem objetivos e perspectivas diferentes, ela se magoa muito fácilmente diante da falta de sensibilidade que normalmente ela reclama que ele tem, não dando nenhuma importância para as suas necessidades, que ela pensa que ele entende e não dá a mínima.

Esta frustração de muitas mulheres com relação ao seu parceiro afetivo que, segundo seu desejo DEVERIA entendê-la e nutrí-la, pode vir a provocar uma verdadeira guerra emocional, com acúmulos de ressentimentos e queixas, tirando a qualidade da relação a dois. Creio que o motivo principal disso é que a mulher tem uma enorme dificuldade de falar de suas necessidades, e age com o homem como se ele fosse uma mulher e tivesse a mesma competência de entender as suas necessidades. Dependendo do nível de frustração e da quantidade de desejos não atendidos, ela acaba transformando a relação a dois em uma enorme queixa.

Por ser circular e principalmente emocional, ela deixa subentendidas as suas necessidades e desejos e tem muita dificuldade de falar com clareza o que está sentindo ou desejando, pois normalmente há um misto de emoções sendo geradas o tempo todo. Ela acaba esperando que ele entenda o que ela sutilmente insinuou ou deseja e como não é clara, a maioria dos homens não entende, pois ele usa a lógica e a razão e se a mulher não disse o que é, ou não teve clareza, é porque não quer. Normalmente é assim que funciona a maneira do homem sentir e agir.

Os arquivos emocionais femininos, de maneira geral, guardam em suas memórias extra-cerebrais, uma enorme quantidade de machucados e feridas que foram praticados contra o feminino nos últimos sete mil anos. Estes arquivos que estão ainda ativados por não terem sido curados estão ao lado da maiora das mulheres, acompanhando-as ao longo de suas vidas, fazendo com que elas tenham uma enorme queixa sobre a vida, que reivindiquem mais da vida, que se sintam injustiçadas e como se algo sempre estivesse faltando.

Há uma sensação de desassossego e inquietação e, quando no seu lado afetivo, seu companheiro não corresponde às suas necessidades ou queixas, sua tendência a se magoar é enorme. O acúmulo destas mágoas que normalmente ela não consegue esquecer ou perdoar vai gerando outras tantas mágoas ou queixas e muitas delas são apenas imaginárias, pois como ela está em contato permanente com as dores de sua criança interior, uma determinada ação ou atitude do seu companheiro é interpretada por este arquivo de maneira equivocada.

Toda a dor que há no seu arquivo, quando recebe um tratamento não esperado, por ter dores acumuladas, aflora, e a história de outro momento, que pode ser de um relacionamento anterior ou mesmo de uma vida passada, vem à tona e ela normalmente joga em cima da pessoa do momento presente aquela história, como se fosse real, agindo como se o seu homem de fato tivesse feito aquilo, que é apenas uma lembrança de dor de outro momento.

Tudo isso ocorre por ser a mulher uma pessoa que tem a sensibilidade do seu emocional bastante desenvolvida, mas se não estiver no equilíbrio, ela vira contra si, e aquilo que é sua grande competência e poder, se torna sua maior fraqueza e tem consequências para muita dor, choro e sofrimento.

É aí que acontecem muitos conflitos, dores, agressões e separações. A mulher tem determinados sentimentos de dor que são projetados em cima do homem e que viram realidades para ela. Ela passa a agir com seu parceiro como se ele tivesse praticado as “realidades” que ela criou e, para um homem, que é linear, que funciona com a mente racional e lógica, se torna bem difícil suportar esta relação, por ele não entender, com os recursos que tem, o que acontece com aquela companheira, que diz ou o acusa de coisas que ele nunca fez ou pensou fazer.

A maneira masculina de funcionamento encontra muitas dificuldades de entender a conduta não lógica da mulher, que precisa falar sempre e quase toda hora, que precisa se sentir segura e amada e cobra dele atitudes e comportamentos que, para ele, não têm tanta importância. Muitas vezes, por esta cobrança existir em excesso, ele se distancia, ficando de guarda e quase que na caverna o tempo todo, pois ele não tem o seu lado emocional preparado para enfrentar esta mulher que vive uma avalanche de emoções e que as coloca para fora a toda hora. E ele, diante de uma emoção que vem para fora ou sente a cobrança de algo, precisa parar, ficar quieto, entender o que lhe acontece, para depois poder enfrentar as emoções.

O universo que nos criou, criou também os propósitos para cada um de nós. Por isso, os papéis de ambos os sexos estão bem definidos pelo universo. A mulher acolhe o homem e o homem protege a mulher. O não entendimento da maneira peculiar com que cada um funciona, faz com que a mulher não venha a acolher o seu homem, mas ela cobra que não é protegida e o homem não protege sua mulher, mas cobra que não é acolhido. Enquanto nós, seres humanos, não percebermos, entendermos e aceitarmos nossas diferenças, continuaremos a criar uma geração de pessoas que tendem a entrar nas relações apenas para sofrer e não para viver a plenitude que uma relação afetiva pode trazer para a vida de cada um.

Irineu Deliberalli