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Autoconhecimento

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A CRISE

O universo nos apresenta o dia e a noite, também nos apresenta o masculino e o feminino, igualmente o prazer e a dor, o bonito e o feio, a alegria e a tristeza e tantos outros pares de opostos, que criam seus contrastes e necessidades de interação e a não compreensão desta dinâmica universal, cria em nós seres humanos, a crise ou o sofrimento.

Dias atrás recebi um e-mail de uma pessoa que me pedia uma orientação ou um caminho. Expliquei que poderia trocar experiências, pois converso com muitas pessoas e talvez o exemplo de resoluções de outras pessoas pudesse lhe servir de reflexão, mas que o caminho, ninguém deve apontar para ninguém, pois o caminho é algo que tem a ver com o meu Espírito Divino e imortal, e ninguém poderá dar a ninguém o seu caminho, pois ele é pessoal, e o meu caminho serve apenas para mim e o encontro, quando aprendo a entrar em sintonia com o meu Espírito.

Mas esta pessoa que me escreveu, num trecho do seu relato, falava a seguinte frase: “busco meu autoconhecimento há mais de 15 anos; tenho feito trabalhos de psicoterapia, estudo a espiritualidade, pratico meditação, e consigo viver um tempo bem, de repente, surge uma enorme crise existencial, e parece que tudo aquilo que tinha conquistado cai por água abaixo, como se eu não tivesse caminhado nada até aqui”.

Este é um questionamento meu em primeiro lugar, pois por diversas vezes eu já me senti assim, e é um questionamento da maioria dos meus pacientes do consultório e do querido povo que forma a Aldeia Rosa Dourada, lugar onde procuramos praticar em nossos trabalhos xamânicos, um conceito e um caminho que nos permitam lidar melhor com esta crucial questão de cada um de nós.

A crise existe em alguns momentos. Ela vai e vem e normalmente funciona como um ioiô, alternando momentos de alta e de baixa, por ser assim, que acostumamos durante vários séculos a lidar com nossas emoções, livres ou presos, acolhendo ou rejeitando, criticando ou aceitando e assim criamos um padrão de inconstância emocional. E hoje, quando a vida nos pede atitudes com mais equilíbrio, por entendermos a necessidade de aprender a ficar em nossa paz interior e que estar feliz nós conseguiremos se mantivermos a serenidade  e verdade com nossas próprias emoções, e por termos dificuldade da constância emocional, volta e meia nos defrontamos com a crise.

Esta crise que aparece a cada um de nós e pode nos tirar a paz e o centramento, é uma maravilhosa oportunidade de nossa cura pessoal e pode ser entendida como ruim ou boa, dependendo do nosso grau de maturidade e de expectativa que mantenho sobre mim.

A nossa estrutura do ego é que regula o mundo de nossas sombras pessoais. Se o meu ego ou o meu arquivo da criança interior tem uma alta expectativa de superação ou de solução mágica para um assunto ou um comportamento que provavelmente eu trago há muitos séculos, sem conseguir equilibrá-lo, e exigentemente cobra de mim ou do universo uma solução de maneira superficial, sem um aprofundamento maior, certamente entrarei novamente em crise, reclamarei de mim, da vida ou de Deus, quando diante de um padrão que novamente se repete eu me sinta ainda impotente por não tê-lo transformado.

Estes padrões que me comprometi a transformar com a mente exterior, sempre serão eles que voltarão, que me abaterão, que me farão sentir inadequado ou triste e magoado, por não ter havido a transformação, mas temos aqui que chamar a atenção de todos, que se eu os tratei e tentei curá-los com a mente exterior, será praticamente impossível que eu venha a atingir os meus objetivos de cura.

Só transformamos algo quando cuidamos deste algo com a estrutura da mente interior, aquela que acesso no meu coração, e se não acessar a sombra que quero curar pelas vias do meu ser divino que se manifesta no coração, não conseguirei conquistar um caminho de cura e de transformação, pois é só neste nosso departamento que posso ter o entendimento real de um padrão que quero transformar.

Apenas quando me permito entrar em contato com meu coração e deixar que ele me conduza à sensação da dificuldade existente e, assim, ampliar o conhecimento da dor lá existente que me faz manter o padrão a ser curado, que terei a chance de realizar a mudança desejada.

Enquanto eu não olhar com verdade para o padrão a ser mudado e reconhecer todo o apego que está inserido por trás dele, ficará muito difícil me desapegar dele e assim liberá-lo.

Os padrões se repetem e as crises aparecem, pois há apegos sobre os objetos da crise, não adianta eu prometer que ”isto” não farei mais, se não entrar em contato com a emoção mais profunda e ter o conhecimento que este fato representará e se transformará na possibilidade da libertação da crise.

As crises aparecem sempre quando um lado de nossas sombras ainda não curado vem à tona. Pelo que tenho aprendido com o trabalho de psicólogo e da coordenação do trabalho nos rituais sagrados de Ayahuasca, as crises nós as resolvemos por camadas.

Ouso pensar que estas camadas são semelhantes às camadas do nosso corpo emocional que já visualizei algumas vezes em nossos rituais xamânicos, pois pelo que eu entendi, cada camada apresentada representa uma encarnação vivida, e como o objeto de nossas crises são comportamentos que executamos reiteradas vezes em várias vivências terrenas, só quando eu entrar em contato com todos eles, me aprofundar em tudo aquilo que existe em meus arquivos, vou ter a condição de fazer a libertação e, consequentemente, a minha tão desejada cura.

Outro fato de real importância e facilitador da cura de nossas crises está em aprender a desenvolver um lado de maior humildade com relação à própria dificuldade que temos e que faz a crise aparecer. A falta de humildade, um ego cheio de desejos e de arrogância, uma autoimagem exacerbada e fora do real, também se tornam motivos para a não compreensão do nosso processo emocional e motivador da manutenção do estado de crise.

Uma crise eu ajudo a curar com a aceitação dela e com o entendimento que cada coisa que me acontece, somente eu sou responsável pelo evento. Tudo que me acontece é obra minha. Cada comportamento ou sentimento que tenho, fui eu quem o criou e cada um destes que não consigo me libertar, é que ainda existe em mim um apego, um gostar, um estar apaixonado por aquilo que não consigo me libertar.

Outro fato de muita importância quando temos uma crise, é que ela representa também uma cura. Ela vem para nos mostrar aquilo que ainda precisa ser mexido e entendido em cada um de nós.

Quando temos aceitação do nosso lado sombra e com humildade passamos a entender que qualquer crise é um caminho de cura, pois ela nos mostra que há algo que precisa ser transformado, eu vou tendo a possibilidade de abrir um caminho mais abrangente para a minha vida.

Com um pouco de sabedoria posso administrar uma crise, ou um sofrimento, como uma grande oportunidade de crescimento pessoal e de cura de tudo aquilo que cristalizei em meus corpos mental e emocional, pois eles apenas refletem os padrões que ainda não consegui curar, o quanto de energia da sombra ficou nesta área de minha vida e que agora preciso usar de toda minha energia e boa vontade, humildade e paciência para encontrar no hoje um novo caminho de transformação.

Saiba que as definições que encontramos de crise são: ato de separar, decisão, julgamento, evento, momento decisivo. Mudança súbita ou agravamento que sobrevém no curso de uma doença aguda. Manifestação súbita de um estado emocional ou nervoso. Conjuntura ou momento perigoso, difícil ou decisivo. Falta de alguma coisa considerada importante.  Embaraço na marcha regular dos negócios. Desacordo ou perturbação que obriga uma instituição ou um organismo a recompor-se ou a demitir-se.

A tua definição de crise qual é? A tua maior crise está relacionado a quê?

Amor, trabalho, emoções, financeira, espiritual. O que te impede de você mudá-la? Qual o medo que você tem de abrir mão dela?

Irineu Deliberalli

Psicólogo e Xamã